O BLOG DA POESIA
Ana Luzia Batista Almeida
Soteropolitana, nascida em 15 de novembro de 1963, graduada em Letras
Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia. Professora estadual de
Literatura, gramática e produção textual, encontrou na escrita a sua forma de
existir, ressignificando a barbárie cotidiana. O universo da leitura a encantou
desde cedo, propiciando-lhe descobertas imagéticas e febris, construindo
/desconstruindo a palavra e suas multiplicidades. Na década de oitenta, em
parceria com Regina Luz, lançou o livro de poemas, intitulado "Luz",
vocábulo que expressa o lume, a candeia do traçado subjetivo das noites e dias.
Alguns de seus poemas foram premiados em Concursos Literários. Atualmente,
reside em Senhor do Bonfim-Ba.
Atende pelo pseudônimo de Analuz Batista. E-mail : analuzba@bol.com.br
TODA A POESIA
DE ANA LUZIA
Descosturagens
Aprumou a espinha
o calçado, ainda, salpicava o pó de outras terras.
A cólera divisava miúdos calares.
E ocre era a cor das ferragens que margeavam o portal do sobrado.
Ela? Não mais o queria.
E era essa uma dor antiga.
Espécie descampada de não ser.
Ana Luzia Almeida Almeida
Canção da
vida toda
Era moço e
diferente. Ser desigual quando nem pedras reconhecem marcas de calçar não é
leveza em leitos que mais secam que transbordam. Era moço que ria. Quando o
badalar dos relógios subvertia as horas, quando portas de aço lacravam mãos e
contentares. Ria pelos absurdos, pelos manuais de condutas normativas. Ria...
mas, como não era nascido da dor, ria por ser sempre carnaval, mesmo quando a
cidade dormia. Por correr estradas a esperar o orvalho que descia em quaisquer
estações, por pastorear o que nem ainda existia. Mas... chorava. Dentro e fora
de si. Quando a primavera não vingava, quando os braços eram estáticos e as
bocas, inexpressivas. Quando o som das janelas destoava da verdade. Chorava,
sim.
E hoje, quando
o olho, dentro de todas as nossas histórias, sei que nunca fora desse mundo.
E quando a
chuva cai, danço exasperada a sede do seu riso. E quando rasgo a camisa que
cobre o meu peito, sei que é você que dança até a vida inteira passar.
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